A vida é cheia delas, eu já sei, faz tempo.
Uma amiga de uma amiga minha falou uma vez que o marido nunca lembrava os aniversários. Do dia em que ela nasceu e nem o dia em que eles casaram. Da primeira vez foi a maior crise, ela chorou, ficou emburrada, quase se separou, mas como gostava muito do sujeito, por conselho de uma outra amiga, resolveu alertá-lo de véspera. Sempre dava um jeito de avisar, com tempo, para que ele pudesse comprar um presentinho, fazer uma surpresa, um convite para jantar ou algo assim.
Também comprava presentes para encantá-lo no aniversário dele e no do casamento deles. Aqueles presentes que se não agradam pela escolha, pelo menos demonstram a preocupação que a pessoa teve em procurar e em tentar agradar o presenteado.
Tudo isso para que ele também entendesse a importância que ela dava para essas datas.
Ele entendia as indiretas e na maioria das vezes lembrava-se das datas, claro, sem a devida importância ao fato.
Muitos e muitos anos sem se encontrar, as amigas se cruzaram novamente e falaram no já citado marido. A esposa confessou que isso era uma grande contradição da vida dela. A pessoa que ela mais amava era tão diferente nos valores e tão pouco perspicaz para perceber o que ela sentia sem que ela tivesse que dizer.
A outra logo perguntou que mal havia em dizer determinadas coisas, se realmente era tão importante para ela.
Ela pensou um pouco e respondeu que certas coisas perdem a graça se a gente tiver que dizer. O quanto é bom receber presentes inesperados simplesmente porque aquele dia você foi lembrado. Ele fechou a janela porque suas margaridas não gostam de vento, deixou o último pedaço de queijo porque sabe que você adora comer queijo no café da manhã. É uma deferência, uma gentileza especial. Uma revelação de amor.
Por fim ela disse que o amor é mesmo uma contradição, pois passamos a vida procurando alguém que nos ame incondicionalmente, que atenda nossas necessidades sem que precisemos sequer pensar nelas e o que fazemos é o contrário. Para sermos amados, amamos.